quarta-feira, 23 de novembro de 2011

boa educação

Conheço tipos bem educadinhos que se julgam o máximo em educação. Alguns não passam de rameiras egoístas falidas. Acham-se superiores aos demais, não permitem que o merceeiro lhes chame vizinhos quando moram ao lado... outros não dizem palavrões (provavelmente levam o exercício de contenção ao extremo de não os pensarem sequer) mas ignoram os outros com uma vénia sorridente, agradecem-te sem vontade e borrifam-se na tua opinião olimpicamente: tu não existes. Confesso que, como na canção, prefiro os malvados (detesto os bonzinhos, adoro os malvados).
Uma canção do Tordo: "dum lado os bonzinhos...bem arrumadinhos; do outro os malvados... vou procurar a letra!)
(também gostava de ter uma crónica do JJ Letria que se chamava qualquer coisa como : a importância de ser boa pessoa. Era capaz de roubar para ter esse texto, escrito num jornal logo a seguir ao 25 de Abril.)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

em jeito de homenagem

De todos os regressos nem sempre os mais difíceis são para lugares distantes. Voltar ao Chegadinho, afinal bem perto, estava no meu programa, passo lá de carro vezes sem conta, mas faltava a decisão. Procurar a Luisa e a Bárbara, isso é que me demorou a fazer. Tinha de ser a pé, por ruas um pouco escusas. Assim fiz, finalmente. Encontrei as casas, mais ou menos onde a memória me dizia que elas estavam. Não as vi a elas, mas já sei onde estão. Os cães que ladravam lá de dentro, não me deixaram entrar. Duvido que estivesse alguém em casa, senão teriam vindo ver o que fazia ladrar os cães.
Vinha a este lugar duas ou três vezes por semana, fazer o que deveria ter sido alfabetização e não foi. Não sei se alguma das minhas alunas aprendeu de facto a ler, depois disso. Mas custa-me admitir que o bairro de lata ainda existe e tem mais e mais pobres, que agora convivem de perto com prédios novos e de bom aspecto. Nada mudou no essencial para estas pessoas, e tanta era a esperança delas. Tenho de lá voltar, talvez fazer um filme para termos todos a certeza que estamos vivos e que o que aconteceu nesse tempo não foi ficção, mas um bocado de realidade que roubámos ao sonho, nesses anos perdidos de 75 e 76...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma cadela chamada …

Pois é, esperámos para confirmar, mas à segunda vez que a dona tentou fazer a cadela sair da sala de pequenos-almoços, onde insistentemente aliciava os hóspedes para lhe darem alguma coisa do que havia em cima da mesa, não restaram dúvidas, a cadela chamava-se mesmo, pasme-se, Pachacha, Pachacha (com duplo ch, pois com x não era a mesma coisa). Vem cá Pachacha, foge daí, Pachacha… e todas as variantes que se queira acrescentar.
Pois, já soube de bichos com nomes estranhos, mas como este nunca tinha ouvido. Chorei a rir .
Podiam até os donos redigir um anúncio do estabelecimento, cheio de estilo:
Monte da Diabrória, um alojamento onde não só o próprio nome é estranho como o caraças como ainda temos uma cadela chamada Pachacha. Alentejanos de uma figa!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A vingança dos plátanos

A propósito de uma vingança que as árvores da avenida empreenderam para vingar uma nespereira cortada sem culpa formada.

Era uma vez uma nespereira que vivia no meio de um quintal abandonado…
A nespereira vivia num quintal que ninguém cultivava, nas traseiras amplas de um prédio antigo. De vez em quando animavam a sua vida alguns gatos, que displicentes, por ali rondavam ou, é claro, a abundante passarada a quem servia de abrigo e suporte para os ninhos. Não que desse muitas nêsperas ou que elas fossem muito doces mas na primavera era uma animação olhar para ela e para os habitantes que suportava. Como ninguém se dava ao trabalho de lhe apanhar os frutos os pássaros agradeciam e tratavam eles próprios de zelar para que não houvesse desperdícios...
Mas um dia a má-língua e a maldição dos sisudos caiu sobre a nespereira – que só fazia lixo, que tirava a vista, que juntava muitos pássaros. E foram-se a ela de serra em punho, sem contemplações e sem observar a própria lei, que manda pedir autorização para corte de árvores às câmaras municipais… ainda por cima não haveria à face da terra ser mais inofensivo do que esta árvore.

Passou tempo e mais tempo e os carrascos desta criatura pobre e sem história mudaram-se para um prédio na avenida larga, mais a seu jeito. Aí, havia uma sólida fiada de plátanos, muito unidos entre si e que tinham em tempos sabido da história. Tinham agora uma ocasião soberana de vingar a sua amiga nespereira. Os plátanos então reuniram-se e puseram-se no cavaco: que podemos nós fazer para vingar a morte da nossa amiga? Não queremos ser tão maus como foram para a nossa amiga, mas hão-de perceber o nosso poder… e conversaram, conversaram até que acharam boa uma solução. E assim ficou decidido: todos os anos, quando fosse verão e o tempo de espalhar ao vento os seus frutos haviam os vizinhos de lembrar-se do crime impune - tanta sementinha haviam de deitar-lhes na varanda que os narizes haveriam de espirrar com fartura e as casas haviam de encher-se de pó e mais pó. Isto fizeram os plátanos e quem sou eu para tentar impedi-los??????

sábado, 23 de julho de 2011

Que me perdoem os homens...

De vez em quando lembro-me daqueles homens que passam a vida a fazer considerações elogiosas sobre a beleza das mulheres da própria família ou, pior ainda, da família da mulher que têm ao lado – sejam irmãs, mães ou simplesmente primas… também podem concentrar-se apenas em certas partes do corpo: as pernas daquela, as mamas da outra…
Enfim, a moral da história é sempre a mesma: és bonita mas podias ser melhor, não tens as mamas da Gina Lollobrigida; ou então: és feiinha, mas estás aqui à mão, serves - consoante quem descodifica a mensagem.
Dantes eu achava tudo isto muito sincero e natural … mas hoje já não penso assim – a “coisa” não tem nada de ingénuo e muito menos de frontal.
Comecei por ouvir a Filomena Mónica dizer o que achava de as pessoas lhe dizerem que era muito bonita quando era nova (e agora já não sou? só porque sou mais velha, tornei-me feia de repente?) e também o que ela acha das pessoas que dizem essas coisas.
Juntei ao que lhe ouvi outras coisas, como o comentário de um psicólogo com programa na rádio ainda pública. Tratava-se de alguém (uma mulher, talvez não por acaso) que vivia atormentada porque o namorado passava a vida a elogiar a beleza de outras raparigas e a dizer que as queria conhecer melhor (parece que usava o telemóvel para mandar às visadas abundantes mensagens), ficando apenas por saber se passaria da teoria à prática. Mas mesmo que o não fizesse, por cobardia, esta é uma situação já de si intolerável.
Juntei o que acho dos homens que escolhem as mulheres porque são muito bonitinhas. Não estão realmente interessados em companhia, mas sim em enfeitar-se, (e por vezes conseguem-no em pleno, elas enfeitam-nos), em vangloriar-se de um troféu que verdadeiramente não lhes pertence mas está ali ao lado, disponível, a dar-lhes o valor ou o brilho que eles não têm.
Ou aqueles que se desdobram em apreciações sobre as antigas colegas que eram mesmo boas e que os levariam à cama pela certa, ou sobre as que tinham um fraquinho por eles.
Tudo ninharias, palavras sem importância, pensava eu, quando era mais tolinha.
Tudo pérolas, que quando ditas, deveriam fazer qualquer mulher ao vosso lado, meus caros, deixar-vos a lamber os dedos mais à vossa insignificância. É o que eu penso hoje, sim.
Pois é, a culpa é nossa (das mulheres ou homens) que permitimos estes comentários, este tratamento, era isso que dizia o psicólogo. E aconselhava também, sobre o tal caso: rife já esse tipo, que a não merece. Se estão juntos é porque há um entendimento mútuo, porque ambos se gostam e mutuamente se respeitam. Esse comportamento não é tolerável. Ponto final. Mas nós ficamos porque gostamos deles, coitadinhos, têm defeitos mas são muito nossos amigos ou ajudam a pagar as continhas que sozinhas não poderíamos pagar.
Comentários destes podem parecer pequenas coisas. Infelizmente são muitas vezes sinais de coisas bem maiores, a que deve ser dada atenção. A pontinha do iceberg. Se alguém faz favor em estar ao pé de alguém, o que deve fazer esse segundo alguém é ir embora e muito depressa, a galope, se possível.
Voltando aos comentários sobre a beleza das outras (a beleza só assim, nua, despida de substância, fixada sobre papel fotográfico), e em geral às comparações descabidas e ofensivas…
Fazê-los é malcriado, revela de quem os faz menosprezo pela pessoa que está ali, ao vosso lado. Faz parte da clássica falta de respeito para com os outros e, mais que tudo, para com as mulheres que têm a pachorra de vos aturar a banalidade de não saberem governar uma casa, a vulgaridade das conversas, a porcaria dos vossos hábitos, as vossas rotinazinhas mancas.
Quem o faz não percebe que menosprezando os outros só está, no fundo, a menosprezar-se a si próprio.
E que dizer dos que ficaram sem as primeiras mulheres, por qualquer razão, e se lamentam vida fora sob várias formas? Elas sim, é que eram verdadeiramente lindas, as únicas verdadeiramente lindas… as que vieram depois nunca vos servirão, não conseguem ser iguais às primeiras... Dir-se-ia que vocês lhes fazem o favor da vossa companhia. Elas não vos merecem porque são mais feias, as coitadas, uma segunda escolha que vocês, CARIDOSAMENTE, fizeram… e a pergunta é, simplesmente: vocês já se olharam ao espelho? Sereis assim tão belos e escorreitos rapazes, sem vícios nem defeitos de maior? Talvez vocês é que não mereçam essas mulheres que vos aceitam como vocês são… e por agora não desejo ir mais além.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Brilharetes

E deixamos tudo para trás e vamos à procura de extra-terrestres; deixamos os pobres, os mal cheirosos, fugimos até do rasto deles, esquecemos os cães abandonados ao desespero da falta de dono (ainda que mau, ainda que rude, o dono era a sua segurança) e vamos todos fazer outra coisa – lavar os dentes, lavar os cus para esquecer que o nosso próprio cheiro é igual ao dos pedintes sem água nem sabão, com o desespero a minar-lhes as réstias de vida que teimam em não abandoná-los, as noites gélidas a arrastarem-se por eternidades, infernos sem fim – porque não vem a morte de mansinho servir-lhes de cobertor? Pergunto-me e respondo logo: porque não há deus!
(A propósito de Brilharetes, uma peça que vi no festival de Almada 2011)