segunda-feira, 12 de outubro de 2009

coitado do Camões...


Parece que o post inaugural deste blog não foi muito festivo. Vamos lá então aligeirar a coisa... Na recente visita que fiz a Constância resolvi fazer, por uma vez, o que me andam há muito a mandar fazer : queixar-me ao Camões!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Coisas dos transportes

Sempre me irritou a cultura do barulho, os locais que são para estar em sossego, conversar ou simplesmente ficar ali a olhar a rua que nos passa ao lado, subitamente invadidos por música que não queremos ouvir ou vozes que nada nos dizem de uma rádio que nem sabemos qual é. Lembro-me de uma crónica que o maestro Vitorino de Almeida fez sobre esta matéria, daquelas que ele fazia ainda a partir de Viena de Áustria, como se diz hoje, no Histórias da música, se bem me lembro… já aí ele se insurgia contra a cultura do barulho (porque é nisso que se transforma a mais bela música, se indesejada) nos locais públicos que por isso mesmo são de toda a gente que os frequenta, e em que não devíamos permitir o massacre dos nossos ouvidos perpetado por esta espécie de ditadura perversa que manda que escutemos o relato da bola, Brian Adams ou uma sinfonia de Bethoven (embora raramente este último caso) e abusivamente nos retira o direito ao silêncio ou ao canto dos pássaros. Hoje temos meios de contrapor ao barulho, mais barulho, podemos tocar piano em silêncio, ficar surdos por nossa própria conta e risco, colocando no máximo os fones do MP3 comprados para poder escolher o nosso próprio mundo auditivo. Mas isso não altera em nada a questão fundamental – a do direito a não ser invadido por sons estranhos ao nosso universo: na praia quero o barulho do mar, no café as vozes dos empregados com os pedidos dos clientes, junto ao rio o gorgolejar da água, no camping aceito o ruído dos aspersores de rega automática… tudo o mais é-me tremendamente desagradável, isto no mínimo; no máximo, faz-me abandonar o espaço porque geralmente quem gere tais espaços não é nem um pouco sensível ao incómodo que as aparelhagens sofisticadas em altos berros causam aos “sensíveis” como eu. E que, quando se queixam são olhados como extra-terrestres…
Mas ultimamente o abuso a que os meus ouvidos têm sido sujeitos mudou de grau, não que os sons tenham subido de intensidade, mas antes o conteúdo do ruído mudou, atingindo as raias do absurdo. Já é suficientemente maçador que alguém combine reuniões e jantares à nossa beira, falando para uma caixa com teclas. Agora ter de ouvir relatos da vida íntima de teenagers às sete da tarde, do estilo, há três dias que tenho namorado, agora é oficial, ele toca bateria desde os seis anos ou eu quero fazer anos amanhã em Lisboa e depois no dia seguinte em tal ou tal parte, por favor. Não se pode publicar uma lei contra este abuso? Não se pode confiscar o telele à menina durante a viagem, como tentou fazer aquela professora numa aula? Ou então eu e o resto da carruagem,devíamos, no mínimo exigir o direito a um convite para o jantar de aniversário da menina, ou dois, um para Lisboa e outro para quando ela fizesse de facto anos em Évora… É por estas e por outras que os transportes não têm mais adeptos podem crer, e olhem que eu bem me esforço.