quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Zakuska na legloto



Quando apresentei ao Ivo um búlgaro meu amigo que por cá passava férias, ele disse-nos que sabia dizer uma coisa em búlgaro, a saber, zakuska na legloto. Mais, argumentou que a expressão era importante e podia abrir algumas portas a quem estivesse na posse do seu conhecimento, como se se tratasse de uma frase mágica, capaz de dar poderes suplementares ao seu utilizador. Talvez com ela seja mais fácil abrir não portas, mas alguma roupa de cama ou ambas, não sei, mas espantou-me que alguém se ocupasse a decorar algo numa língua tão inusitada, tão raro é, por cá, que se dedique atenção ao que é estranho e diferente… E fiquei a matutar no assunto.

Afinal de contas eu sei demais dessa língua, passam o tempo a dizer-me que a falo muito bem, e nunca me serviu de nada (a não ser para tirar um curso superior, que é coisa sem importância) nunca se me abriu nenhuma cama nem com esta nem com qualquer outra expressão idiomática da língua de Vaptzarov. Mas algum dia experimento: zakuska na legloto* e seja o que Deus quiser…

*em português, pequeno-almoço na cama, mas uma zakuska pode ser também um pequeno snack, que se petisca com gulodice.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lisboa, Louis Vuitton e os sem abrigo

Passamos, a passo rápido na Avenida mais iluminada do centro, Liberdade é o nome dela. Ainda assim, o medo dos assaltos a colar-nos um ao outro, o olhar a cruzar o espaço, perscrutando ameaças próximas ou longínquas. Os sem-abrigo já dormem, em camas improvisadas de cartão sobre alcatifa, à porta das lojas mais finas de Lisboa, precisamente também, as mais iluminadas. Escolhidas para cabeceira de cama, provavelmente por uma questão de segurança dos próprios que assim, às claras, quem sabe, se escondem...
Alheios, na manhã seguinte, já varrido o espaço da infâmia da pobreza, clientes chiques entram, apressam os bens de luxo aí oferecidos e compram, com lustrosos cartões de crédito, o que está para além do vidro /fronteira de mundos opostos.
À noite, de novo os pobres desconstroem o cenário diurno desta Lisboa de contrastes que gritam, talvez para surdos...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

vacas e pobres, na Índia

O meu amigo diz-me o que já sei. Na Índia há pobreza que se vê mesmo da janela do hotel. Aos tropeções com vacas, vacas e pobreza a preencherem os espaços na rua, vacas e vénias por todo o espaço até ao pequeno almoço continental – yes, please. Mas o povo é alegre, especialmente o que nunca entrou num hotel, não sabe como é outra vida possível, a dos ricos. Não H., não estou a ser irónica contigo, nem com o que disseste. Tu tens razão, principalmente porque, por muito que digas e faças no mundo dos “ricos” de hotel, a pobreza que vês vai sempre doer-te. Comigo não dá para fingires o contrário.